ACTUAR JUNTOS

Para actuarmos juntos… Devemos todos quebrar o silêncio pela dignidade de nossa luta. Estamos em vésperas do final do ano de 2021, e para mim é o momento de nos lembrar que este ano foi, para Cabinda, um dos mais dolorosos da nossa história a nível político interno.

Por Osvaldo Franque Buela (*)

Em primeiro lugar, perdemos o nosso primeiro deputado independente no Parlamento angolano, que mais tarde se tornaria um dos vice-presidentes da UNITA, que foi um dos co-fundadores da ex-Mpalabanda, o falecido Manuel Raul Danda.

É uma perda humana irreparável que temos lutado para superar desde a sua partida, e com o passar dos dias, o vazio deixado pela sua presença carismática parece crescer no espectro político provincial e nacional.

A segunda dor foi a perda do falecido General Maurício Amado Nzulu, funcionário aposentado das FAA no que diz respeito aos acordos do Namibe, e infeliz presidente da FCD no momento de sua morte, uma jornada cidadã do seu último acto político na busca consensual pela reestruturação da FCD com vista a uma solução de dignidade e diálogo inter-cabindesa para Cabinda.

Muitos de nós tratavam frequentemente Raul Danda como um herói do povo, pelas suas posições inequívocas na defesa dos direitos humanos em Cabinda em particular, mas especialmente pelas suas declarações abertas contra a colonização e a vergonhosa exploração das riquezas do território de Cabinda pelo regime do MPLA.

Quanto ao General Nzulu, às vezes era visto como um traidor, mas depois de se aposentar e nos últimos momentos de sua vida, deu a impressão de um arrependido que voltou aos valores da dignidade para com a sua terra Natal, e engajou-se a reestruturar o FCD e dar continuidade aos trabalhos para os quais foi assinado o Memorando do Entendimento de Namibe.

Mas o mais importante a recordar sobre estes lamentáveis acontecimentos é que estamos hoje rodeados por um silêncio ensurdecedor, perante os tumultos e tensões políticas que assolam o território de Cabinda, poucos dias antes do final do ano e a alguns meses das próximas eleições angolanas.

Este silêncio é tanto mais pesado porque deve ser quebrado, sim, os nacionalistas e independentistas Cabindas, de dentro e de fora do território, devem romper esse silêncio.

Há duas ou três semanas, todos nós seguimos nas redes sociais, o apelo de um grupo de ex-soldados da FLEC ao Padre Congo, personalidade adequada que eles escolheram para reconciliar e promover um verdadeiro debate na sociedade para o renascimento de uma verdadeira liderança do FCD, após o fracasso das eleições do seu novo presidente, mas ao contrário, vimos também imagens de ocupação e agressões físicas na sede da FCD em Cabinda, sem que se indignassem as mentes sensíveis. Onde está o nosso sentido de humanidade? Quem se beneficia deste vergonhoso espectáculo, 14 anos após o fracasso do dito FCD na sua missão originalmente traçada na Holanda?

Romper esse silêncio não significa apenas fazer falar as armas, nem distribuir comunicados com catálogos de boas intenções, esperamos mais do que isso, pelo bem deste povo martirizado.

A intelectualidade Cabinda não deve deixar o FCD nas mãos de oportunistas políticos nem continuar a personalizá-lo a uma categoria de pessoas egoístas, por que esta plataforma política legal pertence aos Cabindas, desde que engajou o destino de Cabinda em 2006 num acordo político com o Governo de Angola.

Cabe portanto, à FLEC-FAC, ao MIC, à UCI, à ACCDH, à FCC, à ACC e a outras personalidades independentes sair do silêncio, de reunir-se à volta do Padre Congo e outros, para criar um mecanismo de consulta permanente, a fim de responder às necessidades prementes de paz em Cabinda de forma a responsabilizar o governo angolano perante o povo de Cabinda e a comunidade internacional, sobre a situação crítica dos direitos humanos, e engajar um diálogo serio e um estatuto político digno para Cabinda.

Portanto, cabe a nós fazê-lo e agora, porque é o momento certo, e deixar de acreditar que são os outros e a comunidade internacional que o farão por nós e em nosso lugar.

Se a história dirá um dia algo sobre nós, será por aquilo que tivermos a coragem de fazer com determinação, e não pelo que sonhamos viver um dia.

Actuar juntos é construir o futuro de Cabinda

(*) Activista e refugiado político na França

Nota. Todos os artigos de opinião responsabilizam apenas e só o seu autor, não vinculando o Folha 8.

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